‘Estás muito animada. Que aconteceu?’

Apetecia-me perceber porque raio estava tão palhaça e risonha. Não entendia como poderia mudar de humores tão repentinamente. Na noite anterior queria morrer, hoje sorria e estava eléctrica. Algo não batia certo. Tentei acalmar-me e perceber porque estava tão (aparentemente) feliz.

Deixei o dia decorrer meditando neste assunto e depois entendi: estava só a tentar esconder/descarregar os nervos. Ia ter de manhã, uma apresentação oral na faculdade. Assim que percebi que ia deixar a minha apresentação para a próxima semana (por escolha da professora), fui abatida por um raio negro e pesado.

Tinha bebido de manhã um pacotinho de ice tea de manga. Ao almoço bebi um compal light e estive sozinha na biblioteca a passar apontamentos na hora de almoço. Fujo da cantina e dos meus colegas. Odeio perguntas sobre a minha vida.

Não tive aula depois do almoço. Tudo aos pulos e feliz e eu sem qualquer tipo de emoção.

O negro do raio tinha ficado.

Fui assistir a outras aulas enquanto lhe perguntava se ele poderia vir ter comigo à tarde. Disse-me que não sabia, mais tarde diria. Dirigi-me para um café muito acolhedor à espera de uma resposta definitiva dele. Comprei um compal fresh de maça e pus-me a estudar apontamentos.

Quarenta e cinco minutos depois, comecei a sentir o coração a acelerar. Dava golinhos pequenos no sumo. Comecei a pensar que ia vomitar. Nem sabia bem o quê, não tinha nada na barriga a não ser sumos. O coração bateu mais depressa. A respiração ficou mais pesada. Desatei a mandar mensagens para ele e para pessoas ao calha no telemóvel. Ele não respondia. Ninguém respondia. A sensação de desmaio começou a parecer-me uma situação provável. Bebia mais sumo e tentava acalmar-me. Fechei o caderno e comecei a pressiona-lo. Chamadas, mensagens e nada. Pensei que tinha de sair dali, tinha de ir para a rua respirar. Percebi que não tinha forças no corpo. Não ia conseguir levantar-me dali. Comecei a tremer. Só desejava que ele entrasse pela porta. Estava prestes a colapsar. Começava a pensar que ia ter um ataque cardíaco. Não tinha mais nada a não ser um coração acelerado e dificuldade em respirar. ‘Entra por favor, entra’, dizia eu por dentro. Comecei a olhar para as pessoas. E algumas para mim. Baixei a cabeça e fechei os olhos. Não conseguia controlar mais. Abri os olhos e vi que já não tinha mais sumo.

Desisti e liguei para o meu pai. Ele andava por perto e levou-me para casa. Não falei na viagem, como nunca falo com ninguém. Continuava a pensar que ia morrer.

Cheguei, fechei-me no quarto e acalmei-me. Fui fazer chá verde, sempre com dores nos pulmões, e bebi ,neste meu Mundo, o chá morno.

‘Estás muito animada. Que aconteceu?’

‘Não sei. Acho que desde que acordei que estou assim eléctrica.’

‘Pois, mas não é habitual. Costumas ser... diferente.’

‘Talvez os planetas se tenham alinhado para me porem feliz hoje.’

Talvez não.

*

Ps: estou no desafio da Exah. Bebo desde ontem 3L de líquidos (chá verde e água), como menos e tento não vomitar nunca. Estou a tentar. Amanhã indico o meu peso e IMC. Hoje quero folga.