Finalmente chorei.

Confesso que estava ansiosa por vir aqui contar tudo, não sei porquê, mas apetecia-me partilhar. Vai ser longo.

Na terça-feira fui arrancar o dente do siso. Não sei como são os vossos dentistas, mas eu confio nos meus. É a clínica que me acompanha desde sempre e são muito simpáticos. Obvio que a simpatia não é tudo (e nunca se iludam por isso), mas o que realmente nos leva a confiar neles é o profissionalismo deles. E quando eles fazem algo, temos a certeza que irá ficar bem feito. Algures, num post antigo escrevi que nem me importava com os dentistas. Bem desde que tiro os sisos que realmente já me importo e ganhei um medo irracional. Vamos sempre nervosos mas neste momento eu vou extra nervosa. Ele tirou-me o dente (demorou segundos, sem exagero) e eu estava a sentir-me estranha, super nervosa, tremia por todos os lados e tinha a boca a saber a sangue. Para sarar mais depressa o buraco na gengiva ele quis retirar sangue de uma veia minha do braço, colocar na centrifugadora, pegar no plasma e colocar no buraco na gengiva. Quando ele me espeta a agulha no braço desatei a chorar. Já tirei sangue antes e já era a terceira vez que arrancava um dente do siso. Esta foi a mais rápida porque o dente já cá estava fora. E eu chorei, chorei sem me conseguir controlar. Ficou tudo espantado e sem saber o que fazer.

Quarta-feira dia de consulta. Não me lembro do início do dia, mas o meu pai deu-me boleia até ao hospital. O meu coração ia a bater a mil, eu estava em processo mental de evitar um ataque de pânico e pensava para mim “Estás num hospital, se algo te acontecer eles resolvem tudo”. Entrei e tirei a senha, para me distrair e não olhar para ninguém ia rasgando a senha em tiras. No entanto vi, vi pessoas que estiveram internadas comigo, mesmo sendo de outra Ala com outros problemas. Lembrei-me de quando nos encontrávamos todos na sala de fumo e falávamos, joguei à bola com uma rapariga, cheguei a fazer desenhos, ouvir música com outros doentes, etc. Fui chamada e lá paguei a consulta e esperei. O coração estava a bater muito depressa, sentia-me tonta e comecei a ficar com a visão turva. Levantei-me e entrei para o corredor das salas dos médicos, fui à porta da enfermaria e disse:

“Por favor, podem-me ajudar?”

“Que se passa?”

“Preciso de um calmante…”

E comecei a chorar, a chorar compulsivamente, a encharcar-me em lágrimas. Eu não chorava à quase 3 semanas, tinha tanto ali guardado. O enfermeiro pediu-me para me acalmar e para respirar, era tudo ansiedade e já ia passar. Pediram-me para me pesar: 61,3 kg.

Pedi para não me deixarem sozinha nem me deixarem na sala de espera. Não queria. Eles foram buscar-me um banco e puseram-me à porta do consultório da minha médica. Passado um bom bocado ela chamou-me. Entrámos e o choro continuou.

Contei-lhe o que se tinha passado, o que me tinha feito engordar e o porquê de não ter voltado lá. No entanto ela estava magoada, bastante magoada. E disse-me que não compreendia a minha decisão muito menos a sms que lhe tinha mandado com a explicação de que tinha desistido daquela equipe. Ela disse que tenho de falar com a minha psicóloga e ver se ela me quer de volta e pode, caso contrário tenho de procurar uma cá fora. Claro está que se ela não me aceitar eu não posso ter psicóloga, por todos os custos que irão surgir.

Estou medicada, anti-depressivo para ansiedade, um para dormir e vallium para situações de SOS.

Tenho estado melhor e sentido mais conforto, mas ainda tenho episódios de grande ansiedade e já tomei alguns 4 vallium desde quarta-feira. Durmo melhor e no geral tenho andado mais calma.

Quanto à alimentação, incrivelmente controlada. Por estúpido que pareça fico ansiosa se como demasiado, então não ando a comer muito, mas obrigo-me a fazer todas as refeições. Espero ver resultados na próxima consulta quando me pesar. Até lá não me peso.

<3