segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Felicidade?

“Quando se diz "estou feliz", está-se a utilizar o primeiro significado — o de emoção. Quando se diz "sou feliz", está-se a utilizar o significado de bem-estar.”


Eu não sou feliz. Ponto.

Decidi falar sobre isto, nem sei bem porquê, talvez por não me apetecer falar sobre o que andei a comer ou quantos kg tenho ou wtv. Mas lembrei-me que já ando para falar sobre a felicidade há alguns meses. Só ainda não falei porque coloco sempre os meus dilemas alimentares à frente.

E o problema é mesmo esse.


Não estou tão deprimida como estava á uns meses, mas não sou feliz. Julgo que a minha felicidade foi muito relativa desde sempre. Lembro-me (e tenho a certeza) que a tinha quando era criança. Depois tomei consciência das coisas e sofri de bullying. Não me batiam, mas cuspiam-me, excluíam-me, chamavam-me nomes, roubavam-me e etc. Desde a primária e continuou até ao meu 9ºano. Fechei-me por completo. Não saía quando me convidavam, emagreci imenso com dietas, só queria estudar e viver nos meus mundos paralelos com as minhas histórias inventadas, onde era feliz. Não era convidada por colegas para ir aos aniversários, festas temáticas e etc. Não ia a discotecas nem a concertos. Não gastava tempo na minha aparência e fugia de todos os olhares. Faltava a apresentações orais para não me expor. Enfim… Depois no secundário as coisas mudaram parcialmente. As alimentações continuavam más, cheguei a ter um desmaio na escola por não comer e recusei-me a por os pés na escola durante uma semana com medo da comida (que estupidez). Mas em relação ao meu medo das pessoas, melhorei a pouco e pouco. No meu 10ºano apresentei oralmente o meu primeiro trabalho em grupo e no 12ºano consegui finalmente fazer uma apresentação oral sozinha.

Sempre fui boa aluna até ao 9ºano. No 10ºano baixei tudo. Área escolar errada: estava em ciências quando deveria estar em letras ou artes. Continuei sem nunca chumbar, terminei com média de 12,6. Não entrei na faculdade por uma décima. Fiquei um ano parada.

Foi neste ano que tudo piorou. Comia e fazia jejuns enormes. Deixei de jantar e acabava por acordar de noite e comer só porcarias. Levantava-me tarde e pouco fazia. Era um autêntico mono aqui em casa. Não servia para nada, nem fazia nada. Chorava de noite com pensamentos suicidas e a desejar ser outro alguém. A desejar não ter sido estúpida. A desejar ser feliz. Lutei por isso a começar pela faculdade. Fiz melhorias nos exames e subi para média de 13. Concorri aos cursos e faculdades que quis sem querer saber o que os meus pais diziam.

Entrei na faculdade que quis, com o lindo peso de 65 kg. E então num meio lixado o distúrbio instalou-se. A pouca felicidade que tinha sentido durante uns dias pela entrada na faculdade, desapareceu e quem tomou o seu lugar definitivo foi o distúrbio que tentava ganhar raízes desde o meu 9ºano.


Hoje: desço de peso, corto-me sem me lembrar, faço planos alimentares ridículos, vomito, tenho compulsões, choro, discuto com as pessoas de quem mais gosto…


Mas afinal que procuro eu? Que sentido tem toda a minha vida? Luto eu pela felicidade ainda? Descer de peso é aquilo que se tornou uma obsessão. Mas trará felicidade? Já desci de 65 kg para 57 kg e continuo a não ser feliz…


“Sorriso é o símbolo mais conhecido que representa a felicidade humana.”


Onde está esse sorriso?


*

16 comentários:

  1. :"(

    Fartei-me de chorar a ler o que escreveste...
    É-me totalmente compreensível, consigo ver praticamente tudo, porque também o sofri...

    E que sou agora eu também? Alguém com 22kg a menos de que há uns anos atrás e ainda miserável.

    Vejo o número 52 a dançar, de 0 a 9 e continuo na mesma. Numa rotina doentia, num estado de espírito que varia com as porções de comida e com crises de fome e compulsões.

    Sou alguém com as marcas de um transtorno mental e ainda assim chamo por ele.

    Enfim, todos perdemos coisas ao longo da vida. A minha opinião é a de que nós perdemos coisas demasiado importantes cedo demais.


    Nem escrevo mais, estou a deprimir por um chocolate de 190kcal. Fuck this.

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  2. Não. Ser magra não dá felicidade princesa. Há uns anos tentei tirar a minha vida e nessa altura tinha o corpo perfeito.
    A tua infelicidade é muito mais que o peso que a balança marca, mas isso já tu sabes.

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  3. este fim de semana reparei como toda a minha vida passou a girar a volta da balança. a minha familia estava reunida cm ha muito tempo (anos talvez) nao acontecia, fez.m lembrar qdo a minha familia 'existia' (qdo os meus pais n tavam separados) masmmo assim n cnsegui dar o maximo d mim a qem tava presente i pq? pq d manha m tinha pesado i tava cm 200g a mais do peso pretendido..i agr, olhando para tras penso, 'valeu a pena ter guardado o sorriso por causa da porra d 3 digitos?'..

    i assim vivemos...

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  4. Todas buscamos a felicidade... mas no sitio errado! Pensamos que ela está nos ossos... nos números decrescentes da balança... num estômago vazio....

    Depois de já ter sido feliz (até aos 15 anos e com um peso normal baixo mas naturalmente...)... dps de já ter emagrecido até aos 47 kg e tornar-me uma infeliz... dps de já ter engordado até aos 65kg e continuar infeliz... digo a felicidade não está aqui onde a procuramos... Mas também não sei onde a encontrar, só a sei procurar neste sitio!

    É a nossa obsessão com esta vida que não nos deixa ver nem sentir a felicidade...

    Mas um dia tudo vai melhorar... temos ke pensar assim se não tudo perde o sentido...

    Beijinho (manda-me o tal plano alimentar... pode ser pro mail... Brigada;)

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  5. a mim foi o oposto.

    a minha experiência de escola secundária foi de melhor (claro que tive épocas em q estava triste e assim mas no geral ERA feliz)

    dps faculdade e acabou a vida de princesa. grande choque-> distúrbios alimentares. (um bcd cliché, mas nao posso fazer nada) já não SOU feliz e raramente ESTOU feliz. a culpa? minha.

    bubbles, ninguém te pode fazer feliz, só tu. at least try * (falo e não faço, eu sei)

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  6. Pois, como disseste e bem não sou perdida, nem tu o és, apenas estamos confusas, não sabemos bem lidar connosco ou com alguns problemas que a vida nos coloca.
    Eu não me titulo de feliz, nunca o fui, além de saber que como criança chorava antes de ir para a escola por ter medo dos colegas e na escola pela situação de discussão diária em casa. Mas é passado não vou lamentar sobre aquilo que não posso mudar.
    Acho que nem eu nem tu estas a deixar o teu futuro em termos de escola/faculdade a deixar ir, o que é bom, dá um pouco de estabilidade apesar de ser motivo de stress.
    Realmente o peso não define a felicidade, nem a quantidade de amigos nem a nota que temos, cabe nos a nós decidir sobre felicidade ou infelicidade.E apenas mudando o ponto de vista podemos sorrir por um momento.
    lembro-me que no 8ºano queria tanto passar uma tarde com amigos em brincadeiras e que isso era o meu maior sonho e que eu achava que a partir daí eu seria feliz, bem hoje passo tardes assim mas não sou feliz como julgava. Não me digo de depressiva, mesmo que muitos o queiram diagnosticar, mas eu escuso-me de ser fraca e tomar calmante, então fujo literalmente a consultas do médico, quero conseguir por mim, e acho que é o melhor.

    Com isto tudo, queria dizer que devemos "gravar" o que é bom em nós e deixar a melancolia para a época da bengala e da incontinência.

    boa semana
    baci*

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  7. as pessoas acham-me tótó por não gostar de crianças. mas é isto que elas fazem: cospem nos outros, chamam nomes, desprezam .. não têm noção do mal que causam .. e por isso mesmo que são tão cruéis ..
    se pudesse apagaria toda a minha infância da memória (penso que somos duas ..)

    a mina prima não deve ter notado .. hj encontrei-a e não tocou no assunto .. ainda bem ..
    *

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  8. ''só queria estudar e viver nos meus mundos paralelos com as minhas histórias inventadas, onde era feliz''Adoro muito oque voce escreve..!Me sinto assim por muitas e muitas vezes..tenho só 15 anos e convivo com meninas completamente futeis ..e talvez seje este o motivo para me sentir tão fechada..eu apenas fracasso..sofro emagreço e engordo, esta foi minha rotina por alguns anos, mas não quero me permitir mais isso..a diferença agora é que apenas sofro...com menos frequencia...Tenho certeza que o mundo é maior que isso..e hj por mais que não seja facil estar numa sala com 20 meninas que pesam menos que 48k ...eu sei que irei consceguir qundo me sentir feliz...sei que vou ser ..sei ser amada, seii amar...por favor seja feliz...Seja feliz antes de tudo..!Boa sorte querida!:D voce é especial

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  9. com algumas modificações poderia ter sido eu a escrever o post
    =) compreendo-te

    bjinho na testa

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  10. ... Erros.
    Erros, erros e mais erros.

    Erros na forma de pensar, erros nos objectivos, erros nos métodos.

    Há cura? Não sei, ando à procura dela em todo o lado. Sinto-me enorme, amorfa. Um género de ser repugnante e triste que se arrasta por aqui.

    Razões para ser feliz? Claro que tenho. Mas vão todas abaixo com números.
    Contagens, metas, medições. Esquemas mentais e dissimulações. Mentiras.

    A minha vida gira em torno dos números ao fim-de-semana. Dos planos se Segunda a Sexta, e dos erros a partir das noites de Sexta.

    Over and over. Uma monotonia angustiante, uma prisão que não mostra sinais de ser temporária.

    Um dia... *

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  11. * Espero que esse dia chegue, enquanto não chega vou lutando contra a minha cabeça. *

    Procurámos uma solução e vimos a oferta mais apelativa. A mais perigosa e tendenciosa.
    E todos os dias sofremos as consequências dessa "escolha".

    Se de início é fácil pensar que se têm o controle, isso rapidamente acaba. Tornamo-nos nos dígitos que vemos, nas informações nutricionais. Tornamo-nos no ódio pelo que comemos, pelo desespero das compulsões.

    Tornamo-nos infelizes.

    Somos, como bem dizes, miseráveis. Presas a isto. Também eu procuro a magreza, depositei nesse estado a felicidade. Mas duvido que lá esteja.

    Ainda assim, não me canso de a procurar aí.

    Morreremos assim? Por vezes acho que sim. Nessas alturas apenas desejo estar magra o suficiente. Ainda que morta.

    *

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  12. Até nos depararmos com essa questão tudo é maravilhoso porque temos um plano a seguir,"mas será isso que nos vai encher de felicidade?" ou pelo contrário já está a tornar a vida num pesadelo ainda maior mesmo sem nos darmos
    conta?as vezes a felicidade ou o que nos faz infeliz não está nada relacionado com a balança e descobrir o que nos realmente atormeta é que é o enigma....
    Também procuro a solução...
    força
    bjs

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  13. flor você tem o dom das palavras de verdade.

    Comigo foi o oposto sempre fui feliz (mesmo sendo gordinha) porque eu não me enxergava gorda, mas as coisas foram mudando no ano passado quando comecei a mia...não me arrependo, mesmo sofrendo quase todos os dias se não fosse pelos distúrbios alimentares concerteza eu não seria a pessoa que sou hoje.

    bj

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  14. obrigada, não sabes como me faz falta que me apoiem =)

    sabes, acho que se nos conhecessemos nos íamos dar bem. acho-te "normal" na forma de pensar, uma pessoa a sério que nao tenta fingir que é perfeita como a maioria das pessoas que para aí andam. claro que um "outsider" que lesse isto diria que nenhuma de nós é normal por termos transtornos alimentares. mas a verdade é que mts de nós somos mais normais que a maioria das pessoas que se dizem normais. (confuso e repetitivo eu sei, sorry)

    como andas de bulimia?

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